sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Governo espanhol dá razão a Noam Chomsky

O presidente do Governo Espanhol, Zapatero, acaba de demonstrar que a tese de Chomsky é perfeita (ver Post anterior). Aqui é onde os analistas muitas vezes se transformam em ideólogos e, por isso, num mundo perfeito, deviam ler-nos a suas análises ao ouvido, para que os políticos não as usassem como fonte de inspiração.
Zapatero usou as regras 1, 3 e 4 e, com elas conseguiu, sem muito burburinho, fazer passar na reunião do Pacto de Toledo a extensão da idade da reforma para os 67 anos, cumprindo assim desígnios da Comissão Europeia.
Para que se desse a regra número um, "criou" uma notícia (ao tomar uma decisão) há cerca de uma semana, que, apesar de dividir a opinião pública, pareceu dar uma sensação de segurança ao povo em geral, demonstrando ao mesmo tempo a suposta capacidade do governo, não só, para dar soluções, mas neste caso até, prevê-las com antecedência. Manteve o Estado de Alarme até meados de Janeiro próximo, por se acaso os controladores aéreos voltassem a atrever-se a uma greve como a que colapsou a aviação civil no princípio deste mês, "protegendo" deste modo os interesses dos cidadãos Espanhóis e Europeus durante a Quadra Natalícia. Em si mesmo este acto, já desrespeita a própria lei que o cria pois, por definição, o Estado de Alarme só pode durar 15 dias. A partir de aí, provavelmente estaremos num estado de excepção e, em ambos convém ter consciência que as liberdades fundamentais dos cidadãos passam a um patamar secundário, sujeitos a controlo militar. Isto é, circulamos livremente pelas ruas das nossas cidades, mas, em qualquer momento, podem mandar-nos entrar em casa e não sair, sem mais explicações. Não faz falta estender-me sobre o precedente que se coloca. Com todas estas medidas e os media elogiando o bem que o desporto espanhol se tinha saído durante 2010 -- é verdade que sim, mas já todos tínhamos dado conta -- as medidas de recorte de garantias sociais foram rompendo caminho até chegar onde estava previsto. E para o caso de não ser suficiente, decretou uma subida do salário mínimo inter-profissional, de 1,5%. Uma fortuna e que coincidência! Regra número 1: Técnica da Distração. Aplicada na perfeição.
Da Regra nº 2 (Criar problemas para oferecer soluções), encarregaram-se, já faz tempo, os banqueiros e demais representantes do capitalismo liberal selvagem, que campeia pelos quatro cantos do globo.
Deitando mão à ESTRATÉGIA DE DIFERIR, depois de por em prática a regra da GRADUAÇÃO, Zapatero desperta em nós o mais primário dos instintos - a sobrevivência - que automaticamente faz aflorar um sentimento deveras egoísta em forma de:"Ah, menos mal que é só para 2027! Já não me toca a mim".
É a tal outra maneira de conseguir a aprovação de uma decisão impopular, apresentando-a como “dolorosa mas necessária”, obtendo a aceitação pública num dado momento, embora para uma aplicação futura. Primeiro porque o esforço não tem efeito imediato. Depois, porque o povo é induzido a acreditar que "talvez a conjuntura melhore e nem chegue a ser necessário". Isto proporciona ao público mais tempo para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação, chegado o momento de a aplicar.

sábado, 27 de novembro de 2010

MODELO DE PROPAGANDA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO.


10 Formas Distintas Para Um Mesmo Resultado

Como por desgraça, temos pouco tempo (e às vezes vontade) para ler, vai-nos valendo esta incessante troca de “galhardetes” que, entre “amigos” do Facebbok, ou simplesmente através da blogosfera, vai ocorrendo. Esta nova forma de cultura de consumo imediato, tem – para além dos perigos da desinformação e da manipulação (também) – a enorme vantagem de alertar as massas e até de as motivar para acções de variada índole. Aqui é onde, em princípio, deve imperar o critério e o bom senso, que nos permita analizar com sentido crítico o que o monitor do nosso computador nos coloca diante dos olhos. Mas será assim, quando a notícia ou a opinião nos entra em casa pela televisão ou aparece escrita nos diários de grande tiragem? Ou será que interiorizámos a ideia de que o que se diz nesses meios, com 'ligeiras distorsões' devidas aos 'lobbies' que os controlam, é, basicamente, a verdade dos factos?
Recordo, a título de anedota, que um dia alguém me dizia que os Trabalhadores iam tocar a um país Africano (ex-colónia Portuguesa), pois tinha “dado na RTP”. Por mais que eu insistisse que isso não era verdade, já que os custos da deslocação da banda e respectivo backline superavam as espectativas, razão pela qual o acordo não se tinha alcançado, não fui capaz de convencer o minha inetrlocutora de que essa viagem não se iria efectuar. É que na tv tinham dito que sim!...
Estaremos a adaptar-nos geneticamente à estupidez? Ou estaremos a ser alvo de um processo de aculturação e lavagem ao Cérebro Colectivo, tão ou mais grave e perigoso que o que se operou, com base nas várias religões, durante épocas medievais?

Noam Chomsky (http://es.wikipedia.org/wiki/Noam_Chomsky) é um filósofo, activista, escritor e analista político que se define como anarcosindicalista. É profesor emérito de Linguística e uma das figuras mais destacadas do século XX nesta matéria. Amplamente conhecido e reconhecido pela comunidade científica e académica Americana pela sua extensa obra sobre teoria linguística e ciência cognitiva, Chomsky, que também publicou um livro incómodo sobre o 11 de Setembro, elaborou, no seu mais recente livro “Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas” um autêntico Decálogo de Manipulação Mediática que convém conhecer e que intitulou: Estratégias de Manipulação.
O texto que segue é uma adaptação do que me foi enviado em espanhol.

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO
O elemento primordial do controlo social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e dos câmbios decididos pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica da inundação com contínuas distrações e informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais e cativada por temas sem verdadeira importância. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo para pensar: às voltas na quinta, como os demais animais." (in 'Armas Silenciosas Para Guerras Tranquilas')

2- CRIAR PROBLEMAS, E DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
A este método também se lhe pode chamar “problema-reacção-solução”. Cria-se uma situação que previsivelmente causará certa reacção no público, de forma a que seja este a demandar as medidas que se pretende que sejam aceites pela sociedade. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou até organizar atentados sangrentos, com a finalidade de que o público exija políticas e leis para a segurança, ainda que seja em deterimento da sua própria liberdade.
Ou também: criar uma crise económica, para fazer aceitar como um 'mal necessário' o retrocesso dos direitos sociais fundamentais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADUAÇÃO.
Para fazer com que uma medida inaceitável seja aceite, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, durante anos consecutivos. Foi dessa forma que condições sócio-económicas radicalmente novas (neoliberalismo), foram sendo impostas durantes as décadas de 80 e 90:
Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram rendimentos mínimos, em suma, tantas mudanças, que teriam provocado uma revolução, tivessem sido aplicadas todas de uma vez.

4- A ESTRATÉGIA DE DIFERIR.
Outra maneira de conseguir a aprovação de uma decisão impopular é apresentá-la como “dolorosa mas necessária”, obtendo a aceitação pública naquele momento, mas para uma aplicação futura. É mais fácil um sacrifício a prazo que um sacrifício imediato. Primeiro porque o esforço não é realizado no momento. Depois, porque o público – a massa – tende a acreditar ingènuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto proporciona ao público mais tempo para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação, chegado o momento de a aplicar.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO A CRIATURAS DE POUCA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes roçando a debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental.
Quanto maior é o propósito de enganar o espectador, mais se tende a adoptar um tom caracteristicamente infantil. Porquê? “Se nos dirigimos a uma pessoa tratando-a como se tivesse 12 anos ou menos, há certa probabilidade de que, por sugestão, responda ou reaja sem apelar ao seu sentido crítico, como faria uma criança.” (in 'Armas Silenciosas Para Guerras Tranquilas')

6- UTILIZAR O LADO EMOCIONAL MUITO MAIS QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional e, finalmente, no sentido crítico do indivíduo. Por outro lado, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente, afim de poder implantar ou enxertar ideias, medos, desejos, temores e compulsões ou, simplesmente, induzir a comportamentos...

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Assegurar que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o controlar e escravizar. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser o mais pobre e medíocre possível, no sentido de aumentar a distância existente entre aquelas e as classes superiores, perpetuar a ignorância das primeiras e garantir que lhes seja impossível o acesso ao patamar seguinte.” (in 'Armas Silenciosas Para Guerras Tranquilas')

8- ESTIMULAR NO PÚBLICO A COMPLACÊNCIA COM A MEDIOCRIDADE.
Promover no seio do público a crença de que é moda o facto de ser estúpido, vulgar e inculto...

9- REFORÇAR O SENTIMENTO DE CULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que só ele é o culpado da sua própria desgraça, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades o dos seus esforços. Desta forma, em vez de revoltar-se contra o sistema económico, o indivíduo desvaloriza-se a si mesmo e culpa-se, entrando num estado depressivo que, entre outras coisas, inibe a sua capacidade de agir. Sem acção, não há revolução!

10- CONHECER OS INDIVÍDUOS MELHOR DO QUE OS PRÓPRIOS INDIVÍDUOS.
No decurso dos últimos 50 anos, os rápidos avanços da ciência, geraram um fosso crescente entre os conhecimentos adquiridos pelo público e os que possuem e utilizam as elites dominantes.
Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um avançado conhecimento sobre o ser humano, tanto em matéria física como psicológica.
O sistema consegue conhecer o indivíduo comúm melhor do que ele se conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controlo e um poder maiores sobre os indivíduos, que o que exercem estes sobre si mesmos.

Dá que pensar...
Um agradecimento especial ao André Sarbib, que me enviou o texto original.
Pareceu-me importante adaptá-lo e difundi-lo, pois cada vez mais sinto que o cerco (e o cinto) se aperta.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Reacção Política de um amigo do facebook a um apelo de Miguel Cerqueira

Miguel Angelo Cerqueira 21/8 às 15:32 Fecham-se escolas,centros de saúde e os deputados europeus ?onde é que estão? .
Miguel Portas 23/8 às 11:14 Olhe, eu estou em bruxelas a tratar-me. Mas os deputados do BE andam pelo país em sessões diárias, em paricular a Ana Drago, denunciando os encerramentos injustificados .
Miguel Angelo Cerqueira 23/8 às 13:24 Olhe,espero que o seu tratamento tenha sucesso pois não faço ideia qual é o seu problema.A minha pergunta parece-me legitima e não fui mal educado.Há portugueses que precisam de se tratar "aqui" e não podem,porque nem sequer ganham o suficiente para os tratamentos ou para as deslocações a centros de saúde que ficam a 20 ou 30 Kms do sitio onde vivem.Estou a perguntar se a lei europeia permite que o que está a acontecer em Portugal,saia impune.Quanto ao que o BE está a fazer no país em sessões diárias eu estou informado,só que para mim não chega,nem produz efeitos imediatos.É URGENTE agir aí no centro da Europa...e repare que eu nem sequer fiz a pergunta ao Sr Paulo Rangel,perferi fazê-la a si.
Desejo-lhe as mais rápidas e sinceras melhoras.C.tos. .

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Trabalhadores no Rock às Sextas com homenagem ao guitarrista José Santos, falecido no dia anterior


Apesar da grande noite que estávamos a viver, houve um momento triste, mas que se impunha: Pouco antes do final do concerto quisemos dedicar o Quem Dera, do álbum Trip's à Moda do Pôrto de 1981, ao Zé Santos, ele que afinal tinha ajudado a arranjar o tema e a sacá-lo do "tapperware de vinil", e que agora tinha sucumbido à doença que o acompanhava havia anos. O Zé, guitarrista canhoto, foi um dos membros originais do "Cunjunto de Rítimos" que, no início, acompanhavam os 3 Trabalhadores, antes de que, juntamente com ele, o Miguel e Jorge nos assumíssemos como sexteto. Era um amigo com quem pouco convivíamos, mas sempre que o encontrava no B-Flat ou algum outro bar por aí por Matosinhos, lhe percebia a energia acumulada e as ganas de tocar em tudo que era sítio.
Que descanse!.





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Nós saímos da Serra do Pilar com a sensação do "dever" cumprido. A enchente foi uma uma grata surpresa a uma quinta-feira, que demonstra que há uns milhares que entendem a nossa "mensagem", a querem ouvir e até repetem.
Obrigados nós!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Esta rapaziada despacha-se a gosto no palco

No passado dia 12 de Julho tivemos o imenso privilégio de conseguir juntar num mesmo palco, os Trabalhadores, as Vozes da Rádio e essa lenda viva da CULTURA POPULAR portuguesa que é o Conjunto António Mafra. Nem de longe nem de perto fomos originais, pois a ideia já tinha sido posta em prática no Forum da Maia, há pouco mais de um ano, na sequência da edição do disco das VdaR, Sete & Pico, num concerto entre cujos participantes eu me encontrei. Existe, aliás, um DVD com a gravação integral do espectáculo, que recomendo vivamente a quem gosta da música do CAM e/ou das VdaR. Só que desta vez, a localização do palco e a importância das festas em que se inseria o espectáculo, conferiram-lhe uma maior dimensão, com uns milhares largos de espectadores na alameda junto às Pirâmides, e um cheiro a sardinha e frango assados irresistível. Um especial agradecimento ao Victor Dias da Câmara da Maia, pelo empenho que pôs em que este acontecimento fosse o êxito que foi, e outro para todos os que colaboraram: Diana Basto, Marta Ren, Daniela Costa, João "Pony" Ricardo, Vozes da Radio e Conjunto António Mafra.
Deixo-vos o link ao Post encontrado no Blog das Vozes e algum outro video que, entretanto encontrámos na rede.

DE MANHÁ EU BOU Ó POM
TAQUETINHO OU LEBAS NU FUCINHU
CHAMEM A PULÍSSIA

Vemo-nos no Sabugal, dentro de uns dias

domingo, 27 de junho de 2010

Trinta Anos de Trabalhos na Casa da Música

0:20m. O público aguardava a hora do concerto.

Hoje 27 de Junho, no relaxe do Domingo, cabe fazer o rescaldo de uma semana (ou algo mais) intensa. Intensa de trabalho, de emoções, de logros e, acima de tudo de saudável convivência. Brilhava-lhe na cara do Medicis, a satisfação, na manhã de quinta, quando o deixei no aeroporto. Também se lhe via uma espécie de derme triste, por não poder ficar mais um par de dias e ir com o resto da maralha à FNAC do Mar Shopping. Mas como já vai voltar em menos de 2 semanas para mais concertos, digamos que passa rápido.
Foram ensaios intensos e de muito trabalho de preparação, entrecortados por outros trabalhos de promoção e encenação da intro, que adivinhávamos iria ter um forte impacto.
E nem imaginávamos que íamos poder contar com a luxuosa participação do Carlo Torlontano um músico italiano cujo palmarés é de estarrecer, e que se contagiou a tal ponto do espírito Trabalhador, que fez questão de se deslocar ao nosso local de ensaio, onde a trompa alpina quase não cabia (nem soava), para preparar connosco essa “Overture” do Hino à Desanexassom. Esta pequena 'sinfonía' – é tempo de chamar as coisas pelo nome – teve o início que realmente merece e vai tê-lo na versão discográfica também, cortesia que muito nos honra, do Carlo, que se comprometeu a gravá-la em Itália.
No CD só não vamos poder ter a “presença” de D. Sebastião, que muito terá ajudado a entender a nossa interpretação da estória que nos conta a História, mas essa estará lá para que todos possam analizar e opinar, que se agradece.
A Casa da Música, por sugestão do nosso grande amigo Carlos Feixa, deu-nos e teve a oportunidade de oferecer ao público da cidade, um espectáculo de música e estórias, todas elas fortemente enraizadas na nossa realidade cultural e que dificilmente poderemos repetir, justamente na noite mais emblemática, tradicional e emocionante que, cada ano, se vive em todos e cada canto do Porto: a noite de S. João, que assinala a entrada do verão.
E não foram poucos os artistas da fotografia que quiseram deixar testemunho de tão grande noite. O Alberto Almeida,























o Manuel Peixoto,



ou o Manel dos Verdes Campos


criaram uma larga colecção de instantâneos que dão uma ideia do que se pôde ali ver.
Momentos de grande esforço


de insuspeito patriotismo

de genuina devoção


Enfim, toda uma performance com Rei e Roque



FNAC Mar Shopping no dia 25
Já na sexta, com uma formação algo reduzida, fizemos o que decidimos chamar de “concerto complementar” à apresentação dos novos temas do álbum “30 anus de trabailhus isfursadus” – a sair em Outubro deste ano – na FNAC do Mar Shopping em Leça. Com uma surpreendente enchente, apresentámos pela primeira vez ao vivo o tema “Dálhe cordò cúcu”, interpretado pela voz quente da Daniela

e pela primeira vez na versão final do disco, de “A cançom qu'iu abô minsinoue” com essa teatral interpretação da Marta 'Miranda' e a guitarra portuguesa do Pony.

Aqui ficam algumas imgens do evento, gravadas pelas mãos firmes do Carlos Teixeira e também da Ni, que sempre diz que não grava, mas depois não resiste.
Entretanto, para quem tiver interesse, queremos deixar a mensagem que um CD (extra) com 4 temas do novo álbum e 4 videos, ficou disponível desde o dia 23. É uma edição de coleccionador, de 500 cópias e não terá repetição. Tem o título genérico de Gladiador. Em breve se poderá pedir através da página www.trabalhadoresdocomercio.com ou do nosso e-mail trabalhadores@gmail.com, ou ainda através do Facebook

sábado, 19 de junho de 2010

Saramago descansa!

Morreu Saramago e com ele uma parte deste Portugal que há séculos se debate entre a vida e a morte, entre o ser e o parecer. Com ele morreu uma parte da Ibéria, ou da Hispánia se preferirem. Sem ele, hoje, o mundo está mais pobre.
Saramago amava a sua terra, o país onde nasceu e acreditava que o mundo podia ser melhor, mesmo quando os que agora se apressam a improvisar solenidades e funerais de estado, lhe voltaram as costas e desautorizaram a escrita. Saramago amava profundamente a sua língua, que era, no fundo e verdadeiramente, a sua pátria. O homem que fez mais pelo reconhecimento universal da língua Portuguesa do que Camões e Pessoa juntos (perdoem-me a heresia os que pensam que o é) teve que exilar-se, qual Gladiador, em Lanzarote e, desde aí, continuar a fazer-nos chegar o seu pensamento.
Humildemente queremos deixar aqui a nossa homenagem, mais que ao escritor e prémio Nobel, ao homem, ao pensamento, ao carácter.
Saramago, descansa!

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

O ministro e a polémica


Ministro da ciência, Mariano Gago, diz: "pirataria é fonte de progresso"
Miguel Guedes, líder dos Blind Zero e Director da Cooperativa de Gestores dos Direitos dos Artistas, já apelidou as declarações do ministro de "gravíssimas".
Mariano Gago, actual Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, disse numa conferência em Madrid que a pirataria não deve ser vista como "inimigo" pela indústria cultural porque "foi uma fonte de progresso e globalização", avançou a agência Europa Press.

O ministro português acrescentou ainda que o valor de um produto cultural, de uma banda ou artista pop por exemplo, "aumenta" com uma difusão mais alargada que é proporcionada pela partilha de ficheiros na internet: "Hoje em dia um grupo pode adquirir uma notoriedade impensável graças à rede, que pode ser rentabilizada em concertos e, por que não, no aumento de vendas de discos graças à sua popularidade".

Quanto ao que o governo português está a fazer relativamente à pirataria, Gago explicou que está a ser estudada uma forma de regular os downloads ilegais, "procurando ser sensível". O ministro remata: "A Internet é uma quesão de alargar liberdades, não de as restringir".

As reacções não se fizeram esperar e Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero e Director da Cooperativa de Gestores dos Direitos dos Artistas, disse à Antena 1 que as declarações de Mariano Gago são de "absoluta irresponsabilidade, gravíssimas e mostram que o professor Mariano Gago percebe muito pouco disto", acrescentando também que o ministro mostra "um enorme desrespeito pela actividade de quem trabalha".

Foto de: Ana Baião/Expresso


A minha opinião
Não nutro a mais pequena simpatia pelo governo de Sócrates, nem por ele nem por nenhum dos seus ministros. Não é nada de pessoal, mas a arrogância a que invariavelmente deitam mão, nas suas declarações públicas, deixa-me no mínimo perplexo e a pensar, se algum dia não voará um sapato na direcção de algum deles, tal como lhe ocorreu a Bush. E até talvez com mais esmerada pontaria. Digo isto para evitar más interpretações, já que, no caso presente, tenho que reconhecer que o ministro Gago, não teve papas na língua e, abertamente, não só declarou o que lhe ia na alma (até os ministros a têm) como demonstrou um conhecimento bem mais profundo, do que pode parecer à primeira vista, sobre a realidade que nos cerca.
Meus senhores, a Internet está aí com os seus pontos positivos e negativos, mas nunca a informação esteve tão à mão de semear. “E a desinformação também” dirão alguns. Sim, só que antes, combater e desmentir a desinformação, era tarefa pouco menos que impossível, arriscada quase sempre, letal não poucas vezes.
É indesmentível que a Rede é um veículo promocional incomparável e incontornável, já seja na sua versão Myspace, Facebook, Hi5 ou Twitter, para mencionar os mais popularmente divulgados, ou simplesmente na forma dos milhões de blogs e páginas web circulando global e livremente. É inegável que qualquer forma de arte que utilize o audio ou a imagem estática ou em movimento como expressão, pode ser divulgada com uma rapidez e amplitude, impensáveis há 20 anos atrás. Por estas mesmas razões não é difícil entender a preocupação de todos os intermediários responsáveis pela difusão e “protecção” de obras de criadores nas varias áreas da cultura e do entretenimento, quando vêm que o negócio se lhes escapa.
Como alguns escreveram em comentários e com acerto, que percentagem, do custo de um CD, por exemplo, reverte realmente para o criador/executante da obra em questão? A que se deve o preço exorbitante de um CD, no mercado, quando nos dias que correm (e já há vários anos) as editoras deixaram em mãos dos artistas a produção com os respectivos custos, de todo o processo de gravação? E quando começaram, a pirataria aferia-se ainda por cifras anedóticas.
Além disso, e para quem não sabe, a fabricação de 1000 Cds, com direitos de autor e capa simples incluídos custa ao produtor pouco mais de 600€, o que significa um custo de 60 cêntimos por unidade. E esta quantia diminui conforme vai aumentando a quantidade de Cds fabricados para um mesmo título.
Digo-o com toda a tranquilidade, pois sou músico e criador de mais de 100 temas registados na SPA, e cobro direitos dos quais não abdico sempre que se vendem discos meus ou quando alguma entidade quer utilizar as minhas criações para fins comerciais. Não apoio a pirataría nem nenhuma actividade delitiva, mas encontro mais depressa atenuantes para um sem abrigo que rouba uma maçã para matar a fome, que para um gestor da banca que vendeu productos financeiros tóxicos. E com isto espero deixar clara a minha linha de pensamento.
Como muitos outros músicos, eu e os restantes Trabalhadores levamos anos (desde 2006) disponibilizando gratuitamente na Rede a nossa música, ao mesmo tempo que tentamos entregar outras mais valias às obras que produzimos para venda, já seja pela apresentação gráfica do CD ou fazendo-o acompanhar de um outro CD que se inclui no preço habitual, tudo isto para que valha a pena o investimento a quem compra, caso queira genuinamente possuir uma obra nossa. Lutar contra a Rede e a distribuição não autorizada é gastar tempo e energia. O “Monstro” foi criado e nós fomo-lo alimentando como mais nos conveio.
Por outro lado, pôr "grades" na Rede, como tenta fazer o governo Chinês e já se sente no hálito de alguns dirigentes europeus é “perder tempo e feitio” e, desde logo, renegar dos princípios mais básicos do seu criador. E o ministro sabe que é assim e por isso o disse, talvez sem pensar. Depois pensou e desmentiu e aí “cagou o postal” e voltou a ser o que se espera dele: bem mandado, politicamente correcto, para agradar aos lobbies e à cúpula de crápulas que vive à nossa custa (esses sim os verdadeiros piratas) desde o poleiro de Bruxelas. A mim, um tipo que descarrega O Voto Útil da net e depois nos vai ver no Porto Sounds, para ver se é verdade que somos assim, não nos rouba, dá-nos apoio e faz-nos seguir em frente. Quem me rouba é a multinacional que utiliza e deturpa uma obra minha e a inclui sem autorização num Cd de Karaoke, de gosto duvidoso, com o computador que “deu a volta ao mundo” - e isto não é ficção. E é aqui quando conto com a protecção da SPA da qual me gratifico por ser sócio e cooperador. Quem me rouba(ría) é a editorial, que nunca aceitei ter, ou a discográfica que além de me discutir um miserável adiantamento de royalties, com um álbum pronto na mesa (capas, estúdio, masterização etc) ainda se atreve a exigir-me a comissão dos espectáculos efectuados durante a vigência do contrato. Valha-nos a Rede. Antes ser roubado pelo povo que não pode pagar nem as batatas – quanto mais o CD – do que pelos que só aspiram a aumentar os benefícios de accionistas que provavelmente nem ouvem música, e a manter os seus postos de gestores, pagos por cifras difíceis de alcançar para a imensa maioria dos músicos portugueses. Alguns haverá que discordem, até porque lhes toca e lhes vai ao bolso. Pois aproveitem que não dura sempre.

Sérgio Castro

domingo, 4 de abril de 2010

Que Páscoa a de 2010!

Desde que tenho posse de razão, há cerca de 5 décadas, que me habituei ao bombardeio ideológico-religioso que nos proibia primeiro, para mais tarde desaconselhar (até à Igreja foi chegando o progresso, ainda que com vagar e algum recato) os “excessos” durante as celebrações da Páscoa. Comer carne era pecado, principalmente se fosse viva e a música e o divertimento eram vistos com estupor pela maioria dos católicos mais fundamentalistas. Dessa forma cresci e me acostumei às sempre desejadas Férias da Páscoa, que nem sempre traziam a tão ansiada paz ao seio familiar, principalmente quando as notas do período não coincidiam com as expectativas dos tutores.
Vi compassos e recordo representações bíblicas que pretendiam exaltar a paixão que os fiéis punham (e ainda põem) nesses actos religiosos, que se multiplicavam pela geografia nacional e preenchiam as manhãs o os telejornais da televisão.
Porém, durante a tarde, a RTP 'brindáva-nos' com filmes bíblicos que contribuiriam, ainda mais, para não deixar esmorecer a mensagem. Quem não se lembra de Ben-Hur, A Queda do Império Romano, Os Dez Mandamentos ou a Bíblia, para só citar uns quantos. Acho que os vi todos e, seguramente, mais que uma vez e sem nenhum critério.
Talvez por isso, anos passados, senti ontem, na Sexta Feira, dita santa, uma inexplicável necessidade de voltar a experimentar algo semelhante. Seria que os meus recém cumpridos 55 anos, me estavam a passar a rasteira do saudosismo pela juventude longínqua?
Corri para o vídeo clube mais próximo e só descansei quando aconcheguei, debaixo do braço, uma cópia de “A Vida de Brian”. Que Páscoa a de 2010!...

terça-feira, 9 de março de 2010

Bem aí outra bez o carro de bôis!



O governo “sushi à lista” acaba de “desvendar”, com a pompa e circunstancia que o evento merece, o pacote de medidas anti-crise que traz incluída a solução para os problemas de todos os portugueses (?!?).
Não sei se por obra da atrás citada ou se porque os senhores deputados são mesmo assim, as imagens transmitidas pelas televisões das reuniões que mantiveram os representantes dos partidos com assento (pouco gasto) e o PM, acompanhado pelo nosso conterrâneo Teixeira dos Santos, mostravam um formalismo e uma falta de calor humano, que não presagiam nada de bom. Eu sei que esta gente quando se encontra nem sequer recorda o nome da cada um (técnica básica para qualquer vendedor de enciclopédias), nem falta lhes faz, já que, invariavelmente todos hão-de ser doutores ou engenheiros e assim se irão tratar, convencidos que isso lhes traz alguma vantagem sobre os restantes interlocutores. Não sugiro que se abracem efusivamente, mas uma cisca de humor não faz mal a ninguém e até podería, eventualmente, ajudar a resolver problemas do trato intestinal de que alguns, pela cara que põem, seguramente sofrem.

UMA VEZ MAIS ESTÃO A IR-NOS AO PACOTE
Mas no fundo, o que nos deve preocupar é esta súbita viragem no rumo da governação, pois onde disse “digo” agora digo “diego” e lá nos vão ao pacote uma vez mais. Refiro-me, obviamente, ao pacote de medidas, aparentemente tão fundamentalmente necessárias para aumentar a “falta de desemprego” – um conceito novo ao que devemos habituar-nos – e que nos tinha dado momentaneamente essa alegria de ver a distância temporal entre Porto e Vigo (e Coruña) diminuida. Creio que em alguma ocasião, sem afano de dar razão à oposição, eu tinha estado de acordo que um TGV para a linha Porto-Lisboa era um despesismo redundante nestes tempos, da mesma forma que o equivalente entre o Porto e a grande urbe galega era uma necessidade e uma obrigação moral para com as gentes desta grande região europea a norte e a sul do rio Minho, para cúmulo corroborada pelo governo autónomo galego e até já acordada e agendada pelos executivos centrais de ambos países. Outro galo canta já quando se fala em TGV, pois uma distância de 140km, num país de parca economia, faz-se com a rapidez adequada num talgo pendular, tal como se tem feito, até à data, o percurso Lisboa-Porto. Mas apesar de tudo isto e das fundadas críticas de varios “alcaides” e dirigentes nortenhos, Madrid-Lisboa vai poder fazer-se em TGV a partir da data prevista, enquanto que os demais projectos se suspendem temporariamente por falta de verba.
Tentando aproveitar o mote, poder-se-ía dizer que o país anda a duas velocidades ou, como há quem prefira, que existe dualidade de critérios. A mim parece-me que, postos a “ajustar o cinto” se acabam de desobrir duas formas de o fazer: ou abrir mais um furo na direcção da fivela e apertar, ou meter mais para a blusa e aumentar o volume à já farta barriga.

terça-feira, 2 de março de 2010

O ÁLBUM dos 30 anos dos Trabalhadores do Comercio - Parte II

A esta hora, aqui no Minho Norte, é quase amanhã. Por isso, e como prometido, aqui vão mais umas imagens (com movimento e som) do que se passou nos Boom Studios durante as sessões de gravação do novo trabalho dos Trabalhadores (que pleonasmo mais redundante. Ooops, outro?!)
Entretanto, cortesia do Alberto Almeida (e da Marta Ren, acabo de ver) têm aparecido no Facebook, fotos do mesmo evento que durou 5 dias 5, lá para os lados de Canelas.
Eu sei que alguns já estavam a delirar de impaciência, mas o tempo não chega para tudo.
Aqui podeis ver desde o "maestro" Medicis ajudando o Azevedo a meter a bateria num tema acabado de "alinhavar" com o sequenciador "Banda de Garagem", até a uma velada na "Casa da Mariquinhas" em que o Pony brilha com a sua flamante guitarra portuguesa (concerteza). Como soa esse instrumento! Durmam bem e depressinha...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O ÁLBUM dos 30 anos dos Trabalhadores do Comercio



Amigus (de berdade)

passámos a semana a dar-lhe ó malho nos Boom Studios em Canelas. E estamos todos convencidos que fizemos um excelente trabalho para, em conjunto com o que já tínhamos gravado (e até publicado: No colo do Douro/O Voto útil), podermos oferecer-vos O ÁLBUM dos 30 anos dos Trabalhadores do Comercio. Há muito e bom material para confeccionar uma "bolacha" que se ouça. Para já aqui fica um pequeno clip de momentos passados no estúdio. Por lá passaram o Pony, a Diana Basto, a Marta Ren, o nosso engenheiro de som e productor de serviço Pedro Rangel e, obviamente, o Pigma, o responsável por essa inesquecível capa do Iblussom, que repete.
Amanhã há mais.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Mundo actual "retratado" em 5 imagens por Quino

Numa mesma linha de pensamento do que publicámos ontem e só para não perder o balanço.







Quino seguramente nos perdoará o atrevimento, já que é por uma boa causa.



Obrigados Quino.

domingo, 31 de janeiro de 2010

100 anos de República...


Nós não podemos comemorar outra coisa que não seja o nosso trigésimo aniversário, um determinado concerto, ou os aniversários de cada um ou de alguns amigos mais chegados, sob pena de cairmos no mesmo abismo de hipocrisia. A Implantação da República, ao contrário da queda do Estado Novo em 25 de Abril de 1974, foi violenta, sanguinária e persecutória. República não significa forçosamente democracia (a esta até lhe pesa um "duplo regicídio"). A comprová-lo os mais de 40 anos de ditadura estúpida em que os portugueses chafurdaram condescendentemente. E o conceito de democracia também se afasta a passos agigantados da raiz grega que lhe outorga o significado. Ou melhor, se já não carece dele, talvez sejam os contornos definitivos dos que exercem o poder e de quem os escolhe, que se esbatem ou, mais grave todavia, as águas turvas dos processos e do marketing eleitoralistas que se tingem de cores garridas para gáudio dos telespectadores. Vivemos numa espécie de telecracia suportada e à vez suporte de uma claptocracia instituída, prevista na lei (pelo menos nas entrelinhas que só os advogados habilmente conseguem enxergar) e aceitada como “de facto” pela imensa maioria dos cidadãos.

A República é um dado adquirido e, embora muitos seguramente não partilham dos seus prazeres, a imensa maioria está-se positivamente nas tintas, desenterrando o patriotismo e a bandeira apenas quando a selecção nacional de futebol participa em alguma competição internacional. E por isso, e a meu ver, este tipo de festejos tem sabor a cortejo de Unionistas pelos bairros de Belfast ou, para que se entenda mais facilmente, assemelha-se a comemorar uma vitória do Benfica às portas do Dragão e vice-versa. Ou por outras palavras: sobra. A república não se comemora, vive-se nela e com ela, sofre-se e... há muito mais em que pensar.

Inclusivamente a eleição do ou da Presidente, deveria obedecer a um "processo inteligente" semelhante ao da eleição das Misses, passando por sucessivas eliminatórias em que os concorrentes vão exibindo as suas potencialidades e habilidades. Obviamente sujeita a votação popular, mas sem partidos para manipular a vontade do povo e os resultados. O representante dum povo e dum estado devia ser alguém realmente bonito, bem conversado, com "charme". Um tipo como o Rui Reininho, por exemplo, teria todo o nosso apoio. Além do mais recuperava-se todo o esplendor dos bailes de salão de outros tempos.

Comecei a ler o "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares (un alter-ego de Pessoa, mais que um heterónimo) e realmente não o aconselho a pessoas sensíveis, com crises depressivas ou preocupadas com a “crise” omnipresente que nos amarga a existência, nos faz temer pelo nosso futuro e o dos que hão de cá ficar e nos esmaga sob o peso da incerteza. Não é uma leitura que me fizesse falta, quando a cada dia sou confrontado com a miséria que nos rodeia e na que, em qualquer momento, nos podemos imergir, pois calamidades como o Katerina na Louisiana, as chuvas torrenciais na China ou o recente terramoto do Haiti, podem ocorrer a qualquer momento e em qualquer parte do globo, mas devo reconhecer que a escrita de Pessoa, em qualquer das suas inúmeras variantes é invariavelmente tão brilhante como perturbadora. Chega a ser irritante. E, a propósito da República, aqui está um bom exemplo:

(…) E o regimen (a república) está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados mentais, nos serve de bandeira nacional - trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português - o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito natural, devem alimentar-se. (…) Da República de Fernando Pessoa Editora Ática, Lisboa, 1978

Que tenhais uma boas comemorações.

Daqui do Reino das Hispanias, com afecto

Sergio Castro


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Portugal e Galiza, do interdito ao crucial

Este texto que transcrevo com autorização do autor, o meu amigo Joaquim Pinto da Silva, foi publicado, há cerca de um mês no quinzenário As Artes Entre as Letras. Pela sua relevância e "atrevimento", outros blogs já o publicaram antes, como, por exemplo, a CIDADE SURPREENDENTE.
É, como o próprio autor indica em subtítulo
- um texto incómodo (a Norte e Sul do Minho) de cultura, de política


1.
Para o comum dos portugueses, o galego e a Galiza representam uma particularidade étnica e uma região entre outras, em que uma gaita-de-foles, as Rias Baixas e um bom marisco fazem quase toda a distinção para com o restante do Estado espanhol.

Para alguns outros compatriotas, com alguma formação escolar, trazer-lhes-á uma remota ideia de uma literatura comum (a poesia trovadoresca), de algum relacionamento actual num tal de Eixo Atlântico, entremeado de alguns clichés sociais (o aguadeiro em Lisboa, o carregador na Ribeira, o trabalhador incansável) e talvez um preconceito histórico ligado a uma Mãe galega, Teresa, que perdeu uma batalha com o filho insubordinado que assumia pela primeira vez essa condição "superior" de português fundador, o "primeiro".
2.
Uma ditadura iníqua no século XX, uma Inquisição sanguinária (ainda que o Porto apenas tivesse tido um Auto-de-Fé, contrastando com as centenas em Lisboa e, sobretudo, de Évora e Goa) e um nacionalismo centralista afirmado sempre contra a imperial Castela, poderosa e ali ao lado, ajudaram a criar e a manter alguns dos grande mitos fundadores "nacionais", todavia vigentes, apoiados num desconhecimento que se encosta mais ao comodismo intelectual das ideias feitas do que a uma ignorância, também verdadeira, etária, geográfica e socialmente alastrada.

Portugal, na sua vertente histórica de Condado Portucalense, despega-se do restante da Galiza por um acto, comum à época, de afirmação senhorial em relação a um suserano de quem não poderia já tirar vantagens, antes pelo contrário, já que toda uma Reconquista para sul prometia terras a perder de vista e levas de vassalos contribuintes. Com essa independência (do Reino de Leão), que dura há quase 900 anos, em que desenvolve as suas capacidades próprias sociais, estruturais, psicológicas e linguísticas, chega ao que é hoje: senhor de uma História rica e de uma língua pluricontinental de poder crescente.
Mas a questão que sobra, ignota de muitos e relegada (por medo das consequências que poderia produzir e secundarizada pela iletrada tecnocracia vigente) é saber qual é nossa matriz cultural essencial?

Nascemos do nada? Temos Viriato (que viveu seguramente a maior parte da sua vida em território hoje de Espanha) e os lusitanos (povo do qual nem sequer sabemos a língua que falava) apresentados como substrato nacional, porquê?
Talvez a necessidade de afirmação nacional do ex-condado e do Portugal da altura obrigasse a um "desvio" no rigor dos nossos historiadores, comum a muitos povos, para fugir a uma verdade que poderia ainda abalar a nossa frágil independência? Talvez?

A "lusitanização" de que se fala com muita frequência ao norte e ao sul do Minho, foi uma etiquetagem. Os portugueses encontraram no termo "lusitano" o mito genético para construírem uma independência mais segura. Pensariam que mantendo o cordão umbilical galego estariam mais sujeitos a uma intervenção da Grande Espanha (com Castela dominadora), que tinha absorvido a Galiza a norte do Minho, pois poderia induzir-se pretensão anexionista futura.
Creio que foi esta a astúcia que permitiu justificar um Portugal, nascido do "nada" e "inventor" de uma língua que "sem origem" (a não ser o latim, apagando quase mil anos de História), e, por isso, Castela não tinha justificação nenhuma para impedir um povo/língua/cultura tão "diferente" do resto da Península, de ser independente. Recordemos, de passagem, que é o Cisma do Ocidente (1378-1417) que impondo a adaptação das estruturas eclesiásticas às estatais da altura, provoca de facto a separação política "final" entre as duas regiões.

Mas porque é que hoje, integrados numa Europa que nos garante, valha-nos isso!, a paz e a segurança internacional, não retomamos o caminho da ciência e da verdade históricas e não afirmamos sem peias que Portugal é de matriz cultural essencialmente galega? Porque não se diz claramente que o galego é a nossa língua de partida, aquela de onde brotou a nossa variante, desenvolvida, apurada e internacionalizada, chamada português? Porque se persiste em não explicar desde a instrução primária essa origem comum, insistindo-se em "escavar sinais" de vontade autonómica nos séculos anteriores?

As simples manobras de aproximação transfronteiriça, como muito bem assinalou Camilo Nogueira (um dos galeguistas mais esclarecidos na actualidade e que citamos aqui várias vezes), são um processo acomodatício, válido é claro para um relacionamento económico mais forte, mas que não basta para cumprir as nossas obrigações históricas e actuais, e defender o nosso passado e os nossos interesses.

3.
Nascidos antes mas estruturados nos movimentos liberais do século XIX, os Estados-nação já culminaram a sua função destruidora da diversidade política e nacional interna (CN). O conceito de que a um Estado, de fronteiras reconhecidas, corresponde uma nação de per si, com a lógica da jacobina igualdade cidadã e uma imposição de jure de uma língua comum, "aprofundando" assim a necessidade dessa comunidade linguística, "naturalmente " aceite, isto é, imposta por uma centralização, levaram, por exemplo, na França, à quase destruição, pelo menos ao aniquilamento político, da Bretanha, da Alsácia, da Córsega, do País d'Oc, e de outras nacionalidades, mais umas que outras, sobrevivendo ainda uns restos de sentimento nacional "recuperável" na ilha mediterrânica.

Em Espanha, pese os esforços de Castela, três nações conseguiram resistir até hoje, mantendo não apenas as suas línguas nacionais, mas também acesa a chama nacional e a vontade de perseguir os desígnios próprios a cada nação, a soberania à cabeça.

A ideologia "nacionalista" do Estado-nação (o pior dos "nacionalismos", porque disfarçado de supranacional) projecta sobre as nações internas a acusação de pretenderem a constituição de nações etnicamente uniformes, contrapondo a ideia de povo à de território, que seria a própria de Estados como o espanhol, que teriam assim os atributos da pluralidade, da diversidade e, incluso, da mestiçagem e da democracia (CN).

Na Galiza - ou não fosse tão igual a nós - existe uma situação de impasse, motivada, é certo, pela pressão terrorista de um centralismo avassalador, mas sobretudo por um movimento nacionalista preso a um esquerdismo - que é a doença infantil do galeguismo - que recusa abrir-se a outras camadas sociais ou que indistingue luta nacional e luta social, prejudicando gravemente um objectivo próprio, horizontal e acima de qualquer outro (acima, disse bem!), dando a volta, mas cedendo no fundo (e ainda com C. Nogueira) ao marxismo dogmático de Hobsbawn que qualifica os nacionalismos das nações sem Estado, como um fenómeno historicamente transitório, identificável com os interesses das burguesias, à maneira do que, em Portugal, deve ser o pensamento de um Bloco de Esquerda sobre esta questão, ou de outra "esquerda", mais larga e novo-rica que confunde o ser do mundo com a perda empobrecedora da personalidade própria (CN).

4.
Na Galiza, o eixo principal pelo qual a luta nacional tem de passar, e que "beneficiou" neste momento do ataque desenfreado do espanholismo linguístico (que acusou os nacionalismos de querer impedir o bilinguismo, quando o problema é exactamente o inverso) é o da língua.

O nacionalismo, presa ainda do conceito maximalista atrás citado e, nalguns sectores, ainda de um isolacionismo (bem burguês (pequeno), aliás) hesita em tomar a peito esta questão, armando-se da coragem dos Pais Nacionais do galeguismo político (primeira metade do Século XX).

Se ser nação é assumir a possibilidade de construir um Estado. mais verdade ainda é ser nação é que a língua própria seja indiscutivelmente a língua nacional" (CN). E esta, o galego só a pode cumprir cabalmente, se for aglutinadora e cimento de um povo, se se lhe der a continuidade histórica necessária, aquela que o galego enquanto tal, remetido durante muitos séculos a língua apenas oral e rural, não pôde beneficiar, mas que o galego, enquanto português, se temperou, tornando-se não apenas língua literária de larga produção mas ainda língua pluricontinental, a quinta mais falada no mundo (maternal).

Citamos o mais conhecido galeguista português, até hoje, Rodrigues Lapa:

Certos indivíduos, arvorados em linguistas, ignoram ou fingem ignorar a diferença entre vários tipos de língua: a que falamos no trato quotidiano, propriamente a fala; a que empregamos na escrita; e a que é mais elaborada e usamos na literatura. As duas pontas desta cadeia são obviamente a fala e a língua literária. Não é lícito confundi-las. O processo da língua oral é simples: uma vez lançada a mensagem, o signo é esquecido; mas o enunciado literário não morre por ter servido, "está feito expressamente para renascer das suas cinzas e tornar a ser indefinidamente o que acaba de ser", assim escreveu Paulo Valéry.
A recuperação literária do galego padece de um erro fundamental: a transplantação pura e simples da fala corrente para o texto dos livros. Não é assim que se forja uma literatura.

Considerar o galego como parte integrante do sistema linguístico galego-português-brasileiro, com o nome internacional de português, aproximar radicalmente (em sentido próprio) o galego escrito da norma portuguesa-brasileira, enriquecer a nossa língua comum dos milhares de vocábulos e expressões galegas, eis o caminho a percorrer: o que falta.

Bruxelas, 17 de Dezembro de 2009

Joaquim Pinto da Silva (galego do sul, português do norte)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Já estamos em 2010









Estou há 15 dias a fazer testes ao novo ano... É tão parecido com o 2009!

Se a Natureza soubesse de convenções e de calendários, vista a calamidade do Haiti, 2010 devía terminar JÁ! De castigo. … e Deus devia ter vergonha de andar tão distraído.

Mas não tem! Saramago tirou-lhe bem a medida.

Gostava de acreditar que existe para poder deixar de acreditar, com toda a minha força de vontade e fé.

E mais não digo. Adeus