segunda-feira, 28 de setembro de 2009

NINGUÉM TEVE DIREITO A FOTOGRAFIA

Eu não votei Sócrates, embora concorde com algumas das suas acções políticas. Da mesma forma que discordo do seu afano propagandista e acima de tudo, da arrogância de que presume. Ontem pudemos vê-lo a conter-se na sua semi-satisfação, até ao momento em que, interpelado pelos jornalistas presentes, voltava a ser ele mesmo, outra vez.
Nas eleições de ontem Ferreira Leite não saíu derrotada: simplesmente não as ganhou, tal como aconteceu ao BE, à CDU, ao CDS e a todos os outros pequenos partidos que, no seu conjunto, representam pouco mais de 3% do eleitorado. Ferreira Leite equivocou-se na “linha” e perdeu o comboio. Corroborar a ideia da derrota do PSD é aceitar à partida que a governação em Portugal é coisa só de dois partidos – quando um ganha o outro perde e vice-versa – o que é uma ideia redutora que coloca qualquer outra alternativa na periferia.
O PS ganhou-as apesar de ter perdido a maioria absoluta, o que deixa Sócrates à mercê do CDS ou do BE/CDU, uma aliança pouco provável, pois os políticos demonstram pouco sentido de estado e, por cima da responsabilidade de governar um país, esgrimem antes a disciplina partidária, as invejas e melindres de outras batalhas ao mesmo tempo que incutem no povo sentimentos de paixão partidária, sectária, defendidos até à irracionalidade, muito ao estilo do que se passa com o futebol ou a religião. Uma espécie de teocracia política é o pano de fundo dos partidos políticos em Portugal. O circo que montam já não convence e alguém terá que ter a coragem de lhes dizer isto ao ouvido, a todos e a cada um dos dirigentes dos maiores partidos nacionais, dos que têm tempo de antena na noite mais longa e assento na AR (ainda que o gastem pouco).

Realmente as eleições podiam ter sido ganhas por essa massa de gente que, por preguiça, por indecisão ou as duas coisas juntas, não se levantou do sofá. 40% de abstenção é um número respeitável. E vai o Alberto João e passa um atestado de demência e estupidez ao povo Português. Estou ansioso por ter um concerto na Madeira. Pode ser que nos venha ouvir e me dê o gosto de lhe agradecer publicamente, com essa arruaça em que ambos somos especialistas.

É dado facilmente constatável que os que votamos em branco já constituimos uma massa que, se associada, seria o sexto maior partido nacional e para engordar estas hostes não faz falta gastar fortunas em campanhas eleitorais. Eles – os outros partidos – encarregam-se de nos pôr a decisão em bandeja.

NINGUÉM TEVE DIREITO A FOTOGRAFIA.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O VOTO ÚTIL

Levo um par de dias em profunda introspecção, estagnado na dúvida entre escrever este “post” em Português ou em Nortense. É que a gravidade do evento que se aproxima, justifica plenamente escrevê-lo na Língua Mãe, não só para manter o grau de seriedade que transbordou dos debates políticos, em alguns casos esmiuçados por alguns dos membros desse providencial Governo Sombra, mas até como forma de afirmação reivindicativa da vigência prática de um idioma que, mesmo antes da sua desejável oficialização – recorde-se que o Mirandês já é a segunda língua oficial do Estado Português – serviria como pontapé de saída para, durante o debate sobre a regionalização que se impõe, demarcar, logo à partida, uma determinada identidade cultural, porventura geograficamente adjudicável.
Por outro lado, devo reconhecer a necessidade de globalizar a influência deste blog e, talvez por isso, haja decidido escrever em Português, o mais académico possível e em total observância das regras anteriores ao acordo ortográfico.

Estamos a 3 dias 3 das eleições legislativas e, como ocorreu nas europeias, só tenho ouvido povo que diz não estar informado, interessado ou pior, minimamente motivado para cumprir com um dever e um direito que nos concerne a todos e cada um dos cidadãos que contribuímos solidariamente para a comunidade. Há uns anos atrás, não me teria outorgado esse direito, ainda que o tivesse plenamente, pela simples razão de não viver nem contribuir , mas há uns anos que as coisas mudaram e, se durante 2009, nem o Estado nem eu contribuímos mutuamente a “grande escala”, em 2008 a coisa não foi assim e isso dá-me o direito e confere-me o dever de, pondo o meu grãozinho de areia, interferir no seu (nosso) futuro.
Por isso, fica já aqui assente que no Domingo eu vou votar.
Tenho ouvido os foros de TSF, no “louro” do “bote” (perdão, no radio do automóvel – actos falhados do bilinguismo), a malta da rua, os amigos, os companheiros Trabalhadores (do Comercio), ou simplesmente algum cidadão descontente no balcão de uma loja ou do café – aos motoristas dos táxis não lhes faço puto caso, pois ouvem a pior rádio e são sempre do contra – e sinto a depressão (dessa gente), o desinteresse e isto, no fundo, é o que é verdadeiramente aterrador. E penso que os políticos em Portugal, tão preocupados com “o mal que a coisa está em Espanha” não tem feito um grande esforço para esclarecer o pessoal no verdadeiro sentido das suas opções e menos ainda sobre as suas (dos políticos) intenções de cumprir o que se lê nos respectivos programas eleitorais.
E eis quando abro o nº12 do semanário Grande Porto e leio um artigo de opinião do Mário Dorminsky. Vale a pena a leitura, porque este rapaz, da “minha quinta”, que tem dado mais que provas de competência na sua área, tem sem dúvida os pés bem assentes no relvado. A tal ponto que, referindo-se ao nivel dos debates televisivos, esgrime como possível resposta do eleitorado o voto em branco como sendo “um voto de importância relevante. Um voto de todos aqueles que não ACREDITAM neste Portugal.”
Eu diria mais: Ainda que tal seja o grau de indecisão ou de desinformação, não temos o direito de ficar estendidos no sofá, indiferentes. Se queremos que algo mude, temos que exercer responsavelmente o nosso dever cívico. Votemos TODOS em BRANCO. Não passemos cheques “em branco” para que alguns se outorguem uma maioria e uma representatividade que, realmente, não têm, nunca tiveram, nem vão ter.

VOTAR em BRANCO: o verdadeiro VOTO ÚTIL


Sergio Castro, em Vigo (da varanda sobre o jardim...)