segunda-feira, 21 de maio de 2007

Quando os porcos voam e os burros escrevem


Foi sem surpresa nem agravo que que li uma crítica (a primeira?) destrutiva ao disco"Iblussom" dos Trabalhadores do Comércio. Antes de mais porque acredito que, parafraseando Frank Zappa, a maior parte do jornalismo de rock é feito por "pessoas que não sabem escrever, entrevistando pessoas que não sabem falar, para pessoas que não sabem ler". Esta realidade é permeada por outras variantes de crítico que incluem a do músico frustrado e invejoso que não tendo conseguido atingir o nível profissional que gostaria na música, usa na crítica uma forma de estar, com alguma importância, no seio da indústria.

Em raras excepções temos contacto com o crítico profissional e competente, o real entendedor de música, capaz de analisar uma obra em função das intenções do autor e do estilo artístico escolhido para as materializar, podendo eventualmente complementar a análise com uma opinião pessoal acerca do impacto da obra na pessoa do crítico - generalizar para o público em sentido lato é, não só fundamentalmente errado, como até mesmo uma irresponsabilidade jornalística. O jornalista competente sabe-o, e usa o seu "tempo de antena" para descrever uma obra ao seu público, fornecendo com clareza dados congruentes que possam ajudar o leitor a tomar uma decisão acerca da obra analisada - procurar descobrir mais ou, alternativamente, riscá-la do seu mapa pessoal. Aliás, é este aparente poder que leva muitos bons críticos em potência a tornarem-se em maus críticos de facto.

Na dita crítica a Iblussom, o autor reconhece que "Rock e um corrosivo sentido de humor continuam a ser os dados lançados no disco", para em seguida classificar o disco como irrelevante, e com um sentido de humor "desprovido de real sentido". A forma como estas opiniões, evidentemente antagónicas, aparececem escritas pelo mesmo autor, no mesmo texto, separadas por 4 frases apenas, faz pensar que quem as escreveu considera que o seu público alvo não sabe ler (entenda-se analisar criticamente uma peça literária). Talvez tenha razão, em cujo caso a crítica é ela própria efémera e sem sentido já que não é esse o perfil intelectual do público alvo dos Trabalhadores do Comércio. Independentemente disso, é claro que Frank Zappa pensava neste tipo de escritor quando proferiu as suas sábias palavras.

Nesse mesmo artigo, o autor classifica ainda como pouco criativo o trabalho apresentado em Iblussom, referindo que "Musicalmente, a «Iblussom» (evolução com sotaque nortenho) traduz-se em popr/rock convencional, raramente com o mínimo risco ou rasgo de maior criatividade.". Naturalmente, isto denota novamente uma notável falta de capacidade de análise, assente num exclusivo enfoque na sonoridade como forma de expressão. Que acontece ao arranjo? E à composição? E às letras? E ao grafismo de um disco?

Orgulham-se os Trabalhadores de apresentar um disco rico em composição (são raras canções de 3 acordes seguindo a tradicional sequência harmónica I-IV-V tão comum no rock convencional), rico em sonoridades (Rock, Blues, Country, Raggae, Funk, World, com alguns passeios pelo Jazz), executado por bons músicos (pertencentes, e não, ao grupo), gravado e produzido competentemente, ilustrado brilhantemente, e suportado por letras, segundo o autor, e nisto estamos de acordo, de "humor corrosivo". Não será esta combinação rara, pelo menos em terras lusas? Não será este um indicador de criatividade notável, a que os leitores devem ter acesso para determinar se é ou não ao gosto deles? Que faltou ao autor na sua análise? Competência para a fazer?

Felizmente, Os Trabalhadores são, como dizem os ingleses da programação neuro linguística (ramo da psicologia que estudei), "internally referenced". Quer isto dizer que nos estamos mais ou menos a cagar para a opinião daqueles a quem não a pedimos. O mesmo não é dizer que deixaremos passar em claro jornalismo de má qualidade que afecte a nossa capacidade para atingir os objectivos a que nos propomos, daí esta resposta.

Os Trabalhadores reguzijam-se ainda pelas reacções que têm tido ao disco (via email) e aos concertos que têm vindo a realizar no norte de Portugal e na Galiza, e que alargaremos às demais zonas da península a partir de Junho. Essas são as opiniões que nos interessam. Esse é o feedback que realmente conta e que tem sido fantástico. Ouvem-se aplausos emocionais no final de "Iblussom", os risos durante "200 Kilos d'amore", e o entusiasmo generalizado do público no final de cada canção - na maior parte dos casos desconhecidas até esse ponto. São sinais de que o que fazemos é bem recebido, talvez porque é bem feito.

Por estes motivos, e talvez este seja um choque para o "jornalista" da peça em causa, ainda não chegou o dia em que é ele que determina a necessidade ou falta dela de os Trabalhadores gravarem um disco. Isso cabe-nos a nós fazer, e quando nos faltarem as ideias, gravaremos um sobre críticos de música. Aposto que dá um album triplo!

Até lá, o pobo é quem mais ordena!

Juom

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