Apesar da crescente taxa de desemprego na zona Euro, há algum país que resiste de forma titânica, dando-se até ao luxo de nele se inventarem novas designações profissionais.
Há uns dias atrás, um promotor de eventos a meio caminho entre indignado e surpreendido, queixava-se-me de uma reaparecida banda dos anos 80, que se recusara a satisfazer a exigência contractual de alinhar um concerto de uma hora exclusivamente com os seus êxitos da década em questão. Para esse espectáculo de fim de festa, que se supunha realizar no final da vindoira Corrida dos Clássicos, nós, os Trabalhadores, também estávamos convidados. Ao ficar sem efeito o evento – a parte musical obviamente que, como se pode apreciar pelo caos de tráfico diário na zona da Boavista, as corridinhas ninguém as quer perder, até porque já está gasto o cacau das estruturas (para quanto dá o dinheiro público. Só não dá para reparar consciente e definitivamente o piso da Rua da Alegria, por exemplo) – pois ao ficar sem efeito a música para o fim de festa, dizia, me apercebi, que de nós também se esperava o mesmo: um desfile interminável de todos os nossos “êxitos” dos 80 desde 'De manha eu bou ó pom', passando pelo 'Sim, soue um gaijo do Porto' e 'Binhu garrafas de binho' (muito solicitado nestas ocasiões) para culminar no 'Chiquelete', perdão no 'Chamem a Polícia', que até já eu me confundo.
Estará por isso a ser “inventada” uma nova classe profissional que integra e se denomina “Músicos dos 80”. Segundo a “crítica mais especializada” não se podem confundir (to mix up) nem misturar (to mix down) com os demais. Os demais, já se dediquem ao Jazz, ao Pop, ao Rock, à Classica (dita séria), ao Hip-Hop, Reggae, etc – tudo isto dito a rir, obviamente – podem inclusivamente, e dada a escassez de trabalho, integrar projectos múltiplos e realizar o que comunmente se designa como mestiçagem musical, misturando estilos, dos mais variopintos e que os “entendidos”, para não dar parte fraca, rotulam levianamente como 'World Music', dissimulando assim, o melhor que podem, a sua ignorância em Geografia, pois evitam ter que definir em que continente se situa a Somália ou o Uzbequistão. Aos olhos dos “opinion makers” estes músicos auferem de plena liberdade de movimentos e podem contracenar uns com os outros. Os Músicos dos 80 não. Como se tivessem um “selo de qualidade”, destes que a CE e a ASAE em particular, tanto se empenham em atribuir, como o da Vitela Galega. Uma espécie de denominação de origem, que quase parece o assumir de que são portadores de um qualquer vírus altamente contagioso. Que não nos ouçam os capos da Indústria Farmacêutica, que já temos notícia. Nem o Michael Jackson nos salva.
Claro que a coisa não vai bem, já que as próprias Emissoras Nacionais (assenta-lhes como uma luva este nome), que exercem uma espécie de ditadura divulgativa, compartem este ponto de vista e, dentro das suas possibilidades, vão perpetuando esta romaria.
Como se aos Rolling Stones se lhes pudesse negar a divulgação de tudo o que publicaram depois de Emotinal Rescue, porque terem querido “Brincar aos Bee Gees”, quando já não tinham idade para tal.
Por sua vez, a geração de homens e mulheres públicas (sem ofensa) instalada hoje no poder, cuida de forma inquestionável, para que esta “nova” espécie (Músico dos 80), não só não se extinga, mas lhes permita perpetuar esse síndroma de Peter Pan, pelo menos nos momentos em que, bem maquilhados, saem a confraternizar.
E é quando o Músico dos 80, em plena madurez da sua carreira, é solicitado para todo o evento, e confrontado com esse horizonte de intensa actividade que o 'futuro' (¿?) lhe reserva, agora que finalmente “assinou o armistício” e se sentou à mesa dos apóstolos do Poder.
Eu, pela parte que me toca, nunca quis ser músico dos anos 80. Tive que passar por lá, lá isso tive, mas faz tempo, e muito, que deixei de ser músico dos anos 80. Precisamente às Zero horas do dia 1 de Janeiro de 1990, tomei essa arriscada (pelo visto) e corajosa decisão. E aqui entre nós, e não me levem a mal, os 80 deixaram francamente a desejar. Ou não vos ocorre que o Pimba de hoje possa ter tido por antepassado o Neo-Romanticismo dos Roxy Music ou dos Classix Nuveaux. Ouçam com atenção.
Mas isto é só um desabafo.
Nos anos 80 realmente vendíamos fazenda a metro. Agora sim, damos música...
sexta-feira, 3 de julho de 2009
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2 comentários:
Bué fixe! Não me ocorre mais nada agora...
É triste mesmo...
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