quinta-feira, 10 de julho de 2008

sobre o CU e outros buracos das nossas televisões

Algumas pessoas continuam a insistir, principalmente da cintura (do país) para baixo, que não têm CU. Não os censuro por quererem ter "rabo". Aqui na Galiza, onde vivo, todos os machos o temos, só que do lado oposto.
Quando eu era pequenino, a minha mãe deixou-me bem explícito que o conjunto formado pelas duas nádegas e pelo ânus (vulgo "olho do cu") constituía um órgão vital para a sobrevivência de todo o ser humano, pois para além de almofada de protecção do osso ilíaco -- sei bem do que falo, pois ainda recordo os bancos de pau das carruagens de 3ª classe da CP, tão bem quanto as carteiras da escola primária, do liceu ou até da UP -- este órgão é o responsável pela expulsão de tudo, ou quase tudo, o que sobra no nosso organismo. No seu propósito de me educar convenientemente, a mãe Casais (que nunca aceitou adoptar o apelido Castro, já podeis imaginar de que "marca" é) ensinou-me a referir-me a ele (ao órgão) como TUTU. Convenhamos que era uma razoável aproximação e, afinal, uma garantia, que o Serviço Nacional de Censura, a PIDE ou simplesmente um exacerbado brigadeiro de bons costumes não me viria incomodar. Assim cresci, convencido que tanto eu como o gato tínhamos um tutu cada um, só que o dele ornamentado por um nervoso e irrequieto RABO. Rabo eu não tinha não, nem ninguém na família.
Passaram todos estes anos, com câmbios notáveis na nossa sociedade, revolução de Abril incluída, e chego agora à conclusão que fui um grande atrevido, quando tive a ousadia de escrever, musicar e propor aos meus companheiros que a integrassem num CD e no repertório dos Trabalhadores, uma canção intitulada "Cu ó léu". Pelos vistos, esta palavra (Cu), que figura no lugar que lhe pertence no dicionário da Porto-Editora, da mesma forma que na Tabela Periódica da Química, não é apropriada para consumo, entre outras, das "boas famílias" que contribuem para os picos de audiência do programa "Chamar a Música" da SIC, no qual participamos há umas semanas e que, ironia das ironias, é apresentado pelo nosso amigo Herman, todo um especialista em liberdades verbais. A produção do programa, depois de tentar demover-nos de interpretar a canção por inapropriada para o horário "nobre" e tipo de audiência (crianças, disseram?!?), aceitou, mas apesar do trabalho que me deram a preparar as legendas em Português académico (como de resto se pôde observar na interpretação do "Chamem a pulíssia" - ver post anterior) não as emitiram e trataram a canção e os intérpretes como produto do orifício em discussão. Reparem bem no resultado. Foi tal qual como se pode apreciar.

Para cúmulo, em nenhum momento indicam que as vozes são em directo em ambas as canções. Coisas da TV.
Mais logo, quem puder (e quiser) que se venha divertir connosco em Leiria. que o tempo convida...

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