quinta-feira, 10 de março de 2011

Há 25 Anos foi diferente!



Em 1986 foi diferente. O juri era da casa e para a casa. Não admitia ingerências do povo. Ainda assim não foi pacífico e, como se pode ver e ouvir, havia quem não estivesse de acordo. Não exactamente com a escolha, mas com o método, pois ao contrário do que afirma Fialho, Melo Pereira tinha direito a voto. Na realidade o pior dos votos, o que desempatou, para que o programa pudesse prosseguir com normalidade e cumprir o horário previsto. E assim a RTP perdeu e fêz-nos perder essa oportunidade de levar alguma coisa distinta á Eurovisão.
Naquela altura, não nos metíamos com os políticos, nem com a Igreja, como em outros momentos (não calhou). Simplesmente ridicularizávamos a própria RTP e o(s) seu(s) concurso(s). E tínhamos a fala parola, que felizmente mantemos, passados todos estes anos. 
25 anos depois, finalmente, a RTP perdeu o controlo do seu próprio Festival e talvez se tenha feito justiça. Boa viagem até à Alemanha para os Homens da Luta.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Primeiro apareceu a manada...

Com a respectiva autorização dos meus companheiros co-compositores, gostaria de poder dedicar “A Rebulussom”* a todos os povos (sem excepção) que um dia despertam e saiam à rua, num gesto de sincronismo tão surpreendente quanto admirável. O povo Egípcio, que carrega um legado de mais de 4 mil anos de cultura, foi e continúa a ser disso o exemplo mais cabal. Há um mês atrás todas estas massivas concentrações eram impensáveis, mesmo sabendo de outros resultados semelhantes obtidos recentemente com a “ajuda” dos telefones móveis ou da Rede das redes.
Li há dias, num livro de um dos meus autores preferidos, Eduardo Puncet, uma frase que me fez refletir profundamente. Por um lado o termo que utiliza, sem aspas nem itálico, é um substantivo que há anos me vai servindo, ainda que de forma menos positiva, para adjectivar os fenómenos de massas que, na sua imensa maioria, soem desagradar-me e com os quais costumo evitar misturar-me. Só que a afirmação que Punset deixa no primeiro capítulo do seu mais recente livro, agregada à simultaneidade dos acontecimentos acima referidos (até nisso o sincronismo foi perfeito, cósmico diria) deram-me outra prespectiva do fenómeno e do substantivo adjectivador.
“Primeiro criou-se a manada e só mais tarde apareceu o líder” – li.
Os Australopitecos, há mais de quatro milhões de anos, terão descoberto na manada um mecanismo de defesa, contra os predadores, a agressividade da Natureza, ou como não, outras manadas nómadas que eventualmente pudessem querer perturbar a traquilidade da sua existência. Só mais tarde, e justamente para poder negociar com outros aglomerados sociais semelhantes, encontraram a necessidade de eleger um representante, um líder. Claro que este “chefe” (o conceito terá surgido também por essa época) cedo se deu conta que o poder que lhe haviam outorgado – e que afinal, bem vistas as coisas, não era mais que uma procuração para poder apresentar e representar a vontade da tribo ante outras, sem que falassem todos ao mesmo tempo – lhe proporcionava uma regalias que até então não experimentara e o colocava numa posição de privilégio que, no fundo, não lhe desagradava.
Suponhamos que o Homo Erectus (ou quem sabe se até já o seu mais antigo antepassado Homo Habilis , 600 ou 700 mil anos antes) tinha já por essa altura o seu ego, ainda que tivesse que percorrer grandes distâncias para ver a sua imagem reflectida nas águas de um lago, à falta de espelhos na caverna. Não custa a suspeitar que, em pouco tempo, cada chefe se rodeou de um pequeno séquito de fiéis, que contribuindo a perpectuar a sua posição à frente da manada, o iam bajulando com os melhores louvores. Estes recebiam como recompensa, alguns favores e mordomias às que os demais membros da tribo, não teriam acesso, a menos que conseguissem ganhar a confiança do grupo dos eleitos (na impossibilidade de chegar ao contacto directo com o chefe – já naquela altura), aos quais ansiavam substituir na incumbencia. Podemos conjecturar que, aqui se criou a necessidade de alargar o número de “funcionários” afectos ao “regime”, com a intenção de assegurar, não já a segurança do chefe – para isso já lá estavam os “fiéis” – mas a destes, pois eram a “muralha de Adriano” que impediam não só que o “povo” chegasse ao chefe mas também, e muito principalmente, a operação inversa. Com isto, criava-se um cinturão protector, de rango inferior, mas que consistia numa especie de seguro de vida, para os “homens do presidente”. Ao mesmo tempo isto teria como resultado, a largo prazo, a “cegueira” do chefe, que não enxergaría mais do que o que lhe mostravam ou deixavam ver os seus homens de confiança, no meio dos quais se encontava a modos que sitiado por uma espécie de IMAX de carne e osso. Portanto este fenómeno e esta organização social, aqui descrita com a maior simplicidade possível, quase infantil, são o que evoluiu até aos dias de hoje. Os chefes tornaram-se reis por suposta graça divina e séculos mais tarde presidentes e os “fiéis” deram em ministros, generais ou cardeais, secretários, coronéis ou bispos, subsecretários, sargentos e curas. E como a pirâmide necessita de uma base para se suster, decidiram quem seria lavrador, pescador, mineiro ou soldado. E para os manter organizados e controlados, dentro do possível, assustaram-nos a todos com a religião, primeiro, depois com a força das armas, descobrindo mais tarde o futebol, a televisão e outras maravilhas que têm como suprema utilidade o controlo da manada.
Mas nem tudo está perdido, parece agora, pois, de repente, a manada reaparece no seu estado natural e, num movimento expontâneo, endémico, questiona o(s) líder(es). Vimo-lo na Grécia, na Tunísia, no Yemen e agora no Egipto.
“Coming to a place near you, soon”




A Rebulussom – canção apresentada pela primeira vez no concerto de 23 de Junho de 2010, na Casa da Música e que faz parte do alinhamento do novo álbum dos Trabalhadores don Comércio. Letra de Sergio Castro e música dos 6 elementos da banda.