sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Governo espanhol dá razão a Noam Chomsky

O presidente do Governo Espanhol, Zapatero, acaba de demonstrar que a tese de Chomsky é perfeita (ver Post anterior). Aqui é onde os analistas muitas vezes se transformam em ideólogos e, por isso, num mundo perfeito, deviam ler-nos a suas análises ao ouvido, para que os políticos não as usassem como fonte de inspiração.
Zapatero usou as regras 1, 3 e 4 e, com elas conseguiu, sem muito burburinho, fazer passar na reunião do Pacto de Toledo a extensão da idade da reforma para os 67 anos, cumprindo assim desígnios da Comissão Europeia.
Para que se desse a regra número um, "criou" uma notícia (ao tomar uma decisão) há cerca de uma semana, que, apesar de dividir a opinião pública, pareceu dar uma sensação de segurança ao povo em geral, demonstrando ao mesmo tempo a suposta capacidade do governo, não só, para dar soluções, mas neste caso até, prevê-las com antecedência. Manteve o Estado de Alarme até meados de Janeiro próximo, por se acaso os controladores aéreos voltassem a atrever-se a uma greve como a que colapsou a aviação civil no princípio deste mês, "protegendo" deste modo os interesses dos cidadãos Espanhóis e Europeus durante a Quadra Natalícia. Em si mesmo este acto, já desrespeita a própria lei que o cria pois, por definição, o Estado de Alarme só pode durar 15 dias. A partir de aí, provavelmente estaremos num estado de excepção e, em ambos convém ter consciência que as liberdades fundamentais dos cidadãos passam a um patamar secundário, sujeitos a controlo militar. Isto é, circulamos livremente pelas ruas das nossas cidades, mas, em qualquer momento, podem mandar-nos entrar em casa e não sair, sem mais explicações. Não faz falta estender-me sobre o precedente que se coloca. Com todas estas medidas e os media elogiando o bem que o desporto espanhol se tinha saído durante 2010 -- é verdade que sim, mas já todos tínhamos dado conta -- as medidas de recorte de garantias sociais foram rompendo caminho até chegar onde estava previsto. E para o caso de não ser suficiente, decretou uma subida do salário mínimo inter-profissional, de 1,5%. Uma fortuna e que coincidência! Regra número 1: Técnica da Distração. Aplicada na perfeição.
Da Regra nº 2 (Criar problemas para oferecer soluções), encarregaram-se, já faz tempo, os banqueiros e demais representantes do capitalismo liberal selvagem, que campeia pelos quatro cantos do globo.
Deitando mão à ESTRATÉGIA DE DIFERIR, depois de por em prática a regra da GRADUAÇÃO, Zapatero desperta em nós o mais primário dos instintos - a sobrevivência - que automaticamente faz aflorar um sentimento deveras egoísta em forma de:"Ah, menos mal que é só para 2027! Já não me toca a mim".
É a tal outra maneira de conseguir a aprovação de uma decisão impopular, apresentando-a como “dolorosa mas necessária”, obtendo a aceitação pública num dado momento, embora para uma aplicação futura. Primeiro porque o esforço não tem efeito imediato. Depois, porque o povo é induzido a acreditar que "talvez a conjuntura melhore e nem chegue a ser necessário". Isto proporciona ao público mais tempo para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação, chegado o momento de a aplicar.