quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SNOWSHOW de Slava Polunin



Afinal ainda há (alguma) possibilidade...

Slava Polunin trouxe a Vigo o seu espectáculo de teatro mímico e de fantasia. O creador Russo, nascido em Sanct Petersbourg, é de um atrevimento incrível e leva os actores a provocar o público contantemente, sempre dentro do contexto do que se vai passando à nossa volta. São os papéis minúsculos que chovem sobre o público, o fumo que, em alguns momentos, parece sofocar-nos, a água que alguns dos actores derramam sobre a assistência ou a ventania descomunal que, a dado momento, quase nos pega à cadeira da plateia. A imaginação complementa a simplicidade e a fantasia acontece. Metade do espectáculo somos nós (o público) quem o fazemos, dentro da nossa cabeça e com a nossa interacção. O “intervalo” é surpreendente, pois durante ele a função não para e as acrobacias sobre as cadeiras da plateia parecem por em risco a nossa integridade física. Em poucos minutos estamos a colaborar. Minutos mais tarde a Diana é “raptada” e levada para o palco onde uma “manada” de tipos raros a persegue, para logo ser ela a persegui-los e depois desaparecer de cena definitivamente. Não se preocupem, voltou ao lugar passados uns minutos.
Recomeça o espectáculo, a chuva (que molha), a neve e o vento que sopra com força. O som, envolvente algumas vezes e com distintas fontes desde o palco, tem um impacto realmente impressionante.
No final, uma quantidade de bolas gigantes, de entre 2 e 4 metros de diâmetro aparecem no palco e são lançadas sobre o público, às quais se juntam bolas mais pequenas e leves.
E então o “milagre acontece” e uma plateia repleta de gente dos 7 aos 77 de repente comunga de um desejo de jogar, brincar e mover-se, proporcionando aos actores em absoluta reciprocidade, um espectáculo interminável de gozo ao qual nem um dos presentes se furtou. Durante uns minutos (largos) todos tivemos um desejo imparavel de “bricar” e brincámos. Os actores observavam-nos satisfeitos. O “espectáculo” valeu mais do que qualquer ovação.



Se aparecer pelos vossos lados não percam...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

INSÓLITO, OU TALVEZ NÃO!...

Pois no Sábado passado aconteceu algo insólito, mas o insólito em Portugal pode ser considerado tudo menos insólito, que o diga o "profeta" Pina Santos (na foto).
Num país que esgota os bilhetes para um concerto dos U2 em Coimbra a um ano de distância, dando um espectáculo de filas intermináveis de jovens dos 15 aos 50 anos, às portas dos pontos de venda (dormida in situ incluída), ou a um povo que perde o tempo e as estribeiras com uma reunião televisiva (recuso-me a classificar aquilo de programa) de 5 pitos carecas em Saia Justa para exultar de júbilo com a demonstração de ignorância e humor ordinário da Maite Proença, já não há nada que possa parecer insólito. Realmente insólita é a reacção nervosa do rebanho em ambos os casos. No caso dos U2 é no mínimo curioso tanto a estampida criada como que, depois de esgotados os bilhetes, se anunciasse um segundo concerto, que já estava de alguma forma previsto. No caso do “escândalo” Maite P. (o P. é intencional, para que cada um termine a palavra como melhor lhe sirva – à “diva”), o verdadeiramente insólito é que se gaste tempo a ver algo parido pela cabecinha de uma actriz medíocre que criou fama à custa da cama e que, como humorista e apresentadora, deixa bastantes dúvidas, e ainda mais que se gaste tempo a escrever e a discutir sobre o assunto. Por isso acabou, não falamos mais nela. Embora deva reconhecer a dificuldade que os portugueses têm para se rir de si próprios – um exercício saudável e altamente recomendável – praticado até aos mais insuspeitos limites pelos nossos “antepassados” dos filmes da Produtora Tobis. Alguém se zangou com o personagem do “amigo Barata” no Leão da Estrela?
O que temo é que em tempos de crises económicas – às quais costumam suceder crises de identidade – os fundamentalistas da pátria, talvez por não ter muito mais em que ocupar o tempo, se lancem, ante estas “afrontas à dignidade nacional”, em cruzadas inúteis, cujos únicos resultados possam ser criar discussões estéreis e deixar em ridículo aos protagonistas. Já tínhamos tido suficiente com o último esforço revolucionário de M. Ferreira Leite, reivindicando a independência de Portugal e querendo correr do país com os Migueis de Vasconcelos instalados no poder.


Pois o caso insólito do passado Sábado foi o concerto dos Trabalhadores do Comércio em pleno Porto velho, ao lado da Torre dos Clérigos. Só e apenas porque o João Medicis não esteve lá. Insólito porque nunca nos passou pela cabeça que voltasse a acontecer. Em 1982, uma febre de 40º tínha-o impedido, à última hora, de estar presente no concerto em que fazíamos a primeira parte de Peter Hammil no pavilhão Infante Sagres e realmente a reacção do 'pobo' não foi a melhor quando anunciei o incidente. Tinha ele então 10 anos.
Desta vez, no Porto Sounds, a coisa correu bem melhor e, para isso, contribuiu o impecável trabalho do nosso amigo e excelente profissional João Ricardo (ex-Amarguinhas, ex-Banda de Poi, na Galiza e actualmente parte da também galega Jabonblue) ajudado pela insuficiente iluminação do palco. O facto de que este último tenha sido baptizado com a mesma “designação” que o original poder-nos-ía ter permitido escamotear o problema, mas o comércio ainda não nos deteriorou as neuronas a esse ponto e não só apresentamos o JR no seu cargo (que cumpriu com honra, lealdade e dedicação – já gostaría muito ministro) como aproveitámos para enviar um emotivo abraço (com um leve apertão de pescoço) ao Medicis, que estava em Londres a roer as unhas (ou as palhetas) por não estar ali connosco.
A mais recente que nos tinha ocorrido pelo estilo, tinha sido em 2005, quando, à última da hora, “deportaram” o Miguel para Paris (num trabalho da RTP) e, em cima do acontecimento o lugar teve que ser preenchido pelo Paulo Filipe. Foi no concerto comemorativo dos 10 anos do “renascimento” do Coliseu. Acto seguido o Paulo Filipe estava a participar no álbum Iblussom.
O que significa que todas estas experiência acabam por ser enriquecedoras ao mesmo tempo que aumentam a “família”.
Passem muito bem.


De manhá a Marta Ren bai ó pom.
em baixo os bailarinos Ines Trabajara e Fernando Leal.
(FOTOS de Nuno Machado)

sábado, 10 de outubro de 2009

JORNADA DE REFLEXÃO


Amanhã, um novo acto eleitoral vai concentrar as atenções de grande parte da população Portuguesa e, muito principalmente dos diversos meios de comunicação, simultâneamente origem e destino do circo mediático que invariavelmente se monta, à volta dos principais candidatos dos principais partidos.

Hoje – o dia anterior – é por defeito a chamada Jornada de Reflexão.
Se na realidade cada um de nós se propõe reflectir seriamente, em vez de dedicar o Sábado a fazer uma grande almoçarada, (é que amanhã até nem vai dar muito jeito!) e, com o voto já mais que decidido – sem discussão possível – analisa o que se passa à sua volta, pode chegar a conclusões, no mínimo preocupantes que, se a uns podem empurrar ao limiar da depressão, a outros seguramente irrigarão a semente da revolta. Um dos falhanços estrepitosos dos nossos sistemas democráticos, é o “circuito fechado” à volta dos partidos alegadamente com assento na Assembleia da República que, por conseguinte, são os que vão garantindo mais ou menos intacta a sua capacidade de financiamento, na razão directa da sua implantação, com especial relevância para os do bloco central, mantendo, assim a reserva da cadeira. Esta é, aliás, uma tendência por demais demonstrada na imensa maioria dos países europeus ou nos Estados Unidos, onde nem sequer parece existir qualquer outra alternativa.
Numa jornada de reflexão interrogo-me por que será que tudo isto persiste. Que interesses esconde e que grupos de influência perpetuam este estado de coisas? As próprias Leis do Financiamento de Partidos e de Campanhas Eleitorais, sendo provavelmente as do possível consenso, favorecem os partidos com maior número de votos num acto anterior, o que, longe de adequar-se ao resultado do desempenho posterior de cada um nas respetivas funções governativas ou de oposição, institucionaliza um prémio à continuidade da mediocridade.
Segundo o economista espanhol Joaquin Estefanía na sua obra “Aquí no puede ocurrir” (Taurus - 2000) vivemos em autênticas cleptocracias em que uma boa parte dos governantes, ou dos colaboradores que gravitam à sua volta (gravitar é a palavra que melhor descreve o processo, pois implica uma espécie de Lei da Atracção Universal de uns pelos outros) estão implicados em fenómenos de corrupção, e em casos mais extremos e recentes como os que se tem visto envolvido Berlusconi, os levam a desafiar a própria Justiça e a legalidade de que eles, à partida, deveriam ser garantia.


Já em Portugal o caso Freeport, que se arrasta, ou em Espanha o caso Gurtel, que ainda hoje conheceu as primeiras decapitações políticas no seio do Partido Popular, são episódios de uma “operação” à escala mundial que vai escavando mais profundamente o fosso que separa a minoria abastada da imensa maioria, submergida na mais profunda das misérias. À chamada classe média cabe-lhe o papel de Muralha de Adriano, uma espécie de escudo humano, que convencido do seu “well fare” vai servindo de muro de contenção à inevitável "invasão" das nossas sociedades pelos milhões de indigentes que, todos os dias se "arrastam" desde África, América do Sul, Ásia ou da periferia oriental da Europa. A classe média tem, por isso, uma enorme responsabilidade na perpetuação do “regime”. Somos os que votamos de maneira conformista e aplaudimos a repressão, os que consumimos de forma desenfreada e os que ajudamos a transformar uma manobra bolsista criminosa numa pandemia de estupidez como a Gripe Porcina.

Uma das acusações mais vezes utilizadas como argumento de combate às "utopias socialistas" é o da falta de liberdade que exibem. Com a globalização do liberalismo capitalista, 4 mil milhões de seres humanos tem hoje a liberdade absoluta de morrer de fome ou/e de doenças cujas medicinas nunca poderão pagar, nem em sonhos. São 2 terços da população mundial, cujo rendimento per capita anual total (dos 4 mil milhões) é inferior ao dinheiro em que se sentam as 300 maiores fortunas do planeta (1).
O espectáculo patético com que nos tem brindado a Indústria Farmacêutica e os media que os servem, numa sucessiva “criação” de pandemias e respectivos virus mutantis, de forma não só garantir a cotação em alta dos laboratórios mais proeminentes, e por conseguinte encher os bolsos de uma boa mão cheia de crápulas amorais, mas também de manter uma boa parte da população mundial completamente agarrada aos “guisos” com medo de morrer disto ou daqueloutro, é o verdadeiro paradigma do novo milénio. Concorrentemente, a forma como há cerca de um ano, o lobby do petróleo se pôs de acordo para originar uma subida galopante do barril de crude, que disparou os preços dos combustíveis a níveis nunca antes vistos, para logo os deixar “estabilizar” num preço que todos acabaríamos por considerar adequados, ao ter como referencia o descalabro ainda recente, é também outro exemplo a ter em conta. Obviamente os mercados ditam a nova ordem mundial e poderia referir uma quantidade de outras atrocidades económicas recentes. E as novas tecnologias que, por princípio, são agoiro de desenvolvimento civilizacional, parecem agora, ao serviços dos poderosos, servir para manter a “manada” sob controlo.
Mas isto é tudo muito remoto, e seguramente aqui não está a acontecer, mas sim noutros pontos do planeta, tal como os cataclismos que até agora, e felizmente para nós, não nos têm afectado.

Pois um exemplo vigente da cleptocracia em que nos movemos e que muitos entendemos na perfeição, já que nos afecta, é o caso de uns quantos bancos em Espanha que inventaram um processo de indrominar clientes que, por inocência, acreditaram na decência de tais instituições ou dos seus representantes. O Bankinter, por exemplo criou um produto financeiro de nome CLIP, sobre o qual podeis ler quilómetros de texto na net, de pessoas seriamente afectadas, por algo que julgavam ser um seguro. No meu (nosso) caso, o Banco Bilbao Vizcaya Argentária, que acaba de reformar o seu vice-presidente de 51 anos com a módica pensão de 3.000.000 de euros anuais, criou um produto semelhante, de nome Cuota Segura (StockPymes para empresas) que no prefácio da crise actual, distribuíram a seu belo prazer. É óbvio que só bancos como estes, que ajudaram a “inventar” a crise, podiam ter a informação privilegiada suficiente para saber que o preço do dinheiro e, por conseguinte o Euribor, iam cair em picado, passados uns meses. Assim, dada a aparente tendência altista dos juros, aos olhos do cliente, parecia uma boa medida fazer um seguro sobre uma Linha de Crédito ou uma hipoteca. Em alguns casos relatados, os clientes do banco chegaram a ser “obrigados” a aceitá-lo sob pena de não obter o empréstimo. No nosso caso particular, ele foi-nos apresentado por um gerente (director de sucursal, em Espanha) no qual tínhamos toda a confiança, já que por várias vezes nos parecia ter aconselhado sabiamente e outras atendido aos nossas propostas de diminuição de comissões em função do caudal de operações desviadas para dita instituição. O que, pelos vistos, não nos apercebemos, na voragem da assinatura da Linha de Crédito e, ao mesmo tempo do dito seguro de JUROS, é que, se por um lado, a Linha de Crédito era (ou não) renovável anualmente, segundo critério do banco, dito seguro tinha uma vigência de 4 anos e o seu cancelamento prematuro uma comissão igual ao total de todas as primas trimestrais somadas. Mas o pior é que nem sequer tinha relação com a LC contratada. Quer dizer, ainda que hoje todas as contas, hipoteca, créditos, etc tenham sido trespassados para bancos concorrentes, a vinculação com esse “seguro” continua a existir, segundo consta num documento que nunca tivemos em nosso poder e que assinámos na mesma altura em que preparávamos a assinatura notarial da Linha de Crédito, abusando da absoluta confiança que depositávamos no nosso “querido” director.
E a lei que diz disto? Como justifica a existência de um seguro que já nem tem objecto? Para não falar da forma abusiva e enganosa como nos foi impingido.
Pois segundo o BBVA há que continuar a pagar até que termine, ou se preferirmos, pagar tudo de uma vez. Já o Banco de Espanha tem uma opinião um pouco diferente e alguns advogados tem conseguido sentenças favoráveis aos prejudicados.
Digamos que isto, nos tempos que correm, é uma espécie de terrorismo económico contra a população indefesa, que só uma verdadeira cleptocracia protege e inclusivamente promove.
Contra o terrorismo, Mão de Ferro?

(1)PNUD – Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas